sexta-feira, março 14, 2014

O crepúsculo do socialismo

Uma forma muito simples de aferir-se o nível de desvio ideológico na comunicação social portuguesa prende-se com a forma como a comunicação social trata a questão da Venezuela e, pior ainda, a forma como os outrora maiores defensores do regime de Chavez não são confrontados, nem com o que se passa na Venezuela, nem com o seu apoio passado ao regime chavista. Entretanto, na Venezuela, já morreram vinte e oito pessoas , isto num país que agoniza com uma inflação superior a cinquenta por cento e, onde faltando produtos essenciais para higiene e alimentação, apenas pode esperar-se uma escalada rápida de violência para acrescentar mais mortos às estatísticas que já davam a Venezuela como um dos países mais perigosos do mundo.

No entanto, ainda há seis anos atrás, Mário Soares (ver vídeo aqui) entrevistava Hugo Chavez tecendo-lhe os maiores elogios, nomeadamente afirmando o humanismo e a luta pelos pobres e oprimidos que aquele configurava. Para a esquerda aqui do portugalório, Chavez sempre foi um exemplo: graças a ele se afirmava que havia uma via para o socialismo democrático que não tinha descambado em violência, opressão e miséria. Pois bem. E agora que a Venezuela se afunda na opressão, na violência e na miséria onde é que estão os socialistas? E onde estão os jornalistas a pedir contas?

Entretanto, directo de Marte, o PCP, a propósito da crise na Venezuela afirma que "já vimos este filme em algum lado. Sim, é verdade, em 2002. O mesmo exacto guião de tentativa de golpe de Estado planificada entre a direita mais reaccionárias, os grupos fascistas e as representações diplomáticas do EUA, sim, com os gordos financiamentos dos EUA. (...) Desestabilização, assassinatos indiscriminados – não é por acaso que elementos da oposição e a favor do governo foram assassinados pelas mesmas armas – grupos para-militares, terroristas, destruição e incêndio de infraestruturas… Não é necessário ter muita destreza intelectual para compreender que não é ao governo venezuelano que isto interessa". Já para não correlacionar a violência com a fome gerada pela falência total do sistema socialista venezuelano é preciso muito mais destreza intelectual, certamente. Aliás, destreza intelectual ao PCP é coisa que não falta: tanto quando assiste ao congresso do Partido Comunista da Federação Russa, tanto como quando se associa em Pyongyang às celebrações daquela "democracia popular" que por lá já matou milhões.

É, precisamente, de tanta destreza intelectual que se fez a história - que o PCP não renega - de morte e miséria do comunismo e socialismo populares no Século XX. A mesma história repete-se agora na Venezuela tal como, aliás, em todos os países onde - com mais ou menos músculo - se tentou implementar a quimera da igualdade socialista, sempre se repetiu. Dessa igualdade prometida sobra agora, com o crepúsculo de mais um sistema socialista, a miséria do povo venezuelano bem como a riqueza obscena da oligarquia socialista que o governa. Nada de novo, muito pelo contrário.

Já aqui em Portugal, pelos vinte e oito mortos não há gritos de indignação, não há manifestações de pesar nem há remorsos pelos apoios passados. Não. Em Portugal, na terra onde nunca alguém é responsabilizado pelo que diz ou faz, apenas se escuta o comprometedor silêncio daqueles portugueses irresponsáveis que, mesmo contra todas as evidências, continuam a vender sonhos (que se transformam sempre em pesadelos) enquanto falam de boca e carteira cheia por esses televisões fora sem que ninguém lhes faça frente. Mário Soares é apenas um deles.

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