quinta-feira, março 06, 2014

Ainda o Congresso

A propósito da realidade política nacional, o meu estado de espírito é de uma certa sensação de estar entre a espada e a parede. As razões são simples: por um lado, o da espada, continuo a sentir uma enorme frustração para com o nosso Governo que, apesar dos bons indicadores que aqui e ali vão aparecendo, parece-me que não se atina a fazer as reformas de fundo que de facto nos abrissem as portas para uma futura prosperidade; por outro lado, o da parede, as alternativas políticas - e partidárias - à actual maioria que nos governa são tão más, tão desvairadas e, pior ainda, capazes de gerar resultados políticos e sociais tão maus, que o que me resta é aceitar que assim é a vida, este é o Governo que temos e não se vislumbram possibilidades de termos no curto prazo um muito melhor do que este. Foi neste sobressalto psicológico que assisti ao último congresso do PSD. Entrei, portanto, desconfiado. E, para mal dos meus pecados, consegui sair ainda mais desiludido.

Primeiro, com a intervenção do Presidente do partido. Alguém ainda me há-de explicar por que razão passou Passos Coelho uma boa parte do seu discurso de abertura a discorrer sobre o pivotal papel que o PSD desempenhou nas fundamentais revisões constitucionais para, à medida que elencava as diferentes reformas constitucionais que o PSD ano após ano forçou e, fruto do registo histórico,  quando já empolgava aqueles que, como eu, vêem como evidente que o caminho da prosperidade assenta numa fundamental - e inevitável - revisão constitucional, terminar o seu discurso atabalhoando-se num lamúrio, em jeito de piada, do género "o PS que não se preocupe que eu não venho pedir uma revisão constitucional". Ora, primeiro se não pediu, deveria ter pedido: sem ela não se vai a lado algum, e até era uma bandeira eleitoral do PSD de 2011. Depois, se não era para pedir a dita revisão então para quê aquele discurso todo? Sobra o mistério.

 A segunda desilusão nem preciso abundar muito nela: só mesmo alguém profundamente obstinado na sua própria teimosia poderia pensar que candidatar o Sr. Relvas ao Conselho Nacional seria uma boa ideia. Palavras para quê? A safar um pouco, ficou o resultado tenebroso da lista de Miguel Relvas e ainda ter dado para ver Marcelo Rebelo de Sousa, o entertainer, bem como Santana Lopes, o humanista benemérito, a mostrarem que os ex-líderes podem ser um bocadinho mais do que aquele fastidioso show de egotismo amargurado de Luís Filipe Menezes para quem, de facto, já não resta muita paciência para aturar.

No final, ficou um congresso com um ou outro momento engraçado, a noção de que o PSD não está morto mas, ao mesmo tempo, a sensação de que o PSD verdadeiramente reformista e capaz de rasgar com o status quo ainda não é desta que vai aparecer. Azar da vida, é o que há, e o que há ainda consegue ser bem melhor do que as inconcebíveis tonterias do Tozé Seguro, ou o revolucionário ressentimento da sempre ressabiada extrema-esquerda indígena.

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